sexta-feira, setembro 22, 2006

Associação dos Amigos do Óscar


Já aqui se tem falado numa facção de contra-cultura dentro da GEPS. Um grupo de corajosos livres-pensadores que não teme dar opiniões diferentes mesmo que pareçam ridículas (tradução: uma cambada de palhaços com teorias parvas). Este conjunto dá pelo nome de Associação dos Amigos do Óscar. O bando tem como objectivo espalhar as mais estapafúrdias ideias de contra-informação sobre o sítio dos Cortiçais (muitas delas produto das longas horas de trabalho no projecto) e derrubar o poder imperialista dos líderes da GEPS. Revolução sempre!!!
Sou membro fundador da AAÓ (isto dito com sotaque Nazareno) e único dos associados que o admite publicamente. O que se compreende, afinal poucos arqueólogos, que pretendam ter uma carreira séria, confirmariam a sua ligação a esta corja de malandros. Como não há o risco disso me vir a acontecer…
Contar-vos-ei as condições do nascimento da AAÓ e então compreenderão de onde vem muita desta demência. Tudo se passou na campanha dos Cortiçais de Novembro de 2005, dedicada a fechar o ciclo da última campanha. Em suma tínhamos tirado muitos fragmentos de cerâmica debaixo d'água e não tinha havido tempo para processar toda a informação. O que entendo por processar? Cada fragmento, após ficar relativamente seco e sofrido uma pequena desalinização em água doce (a verdadeira desalinização tem de ser feita em tanques próprios e leva algum tempo), era fotografado (de um lado e do outro), pesado e as suas características e local de depósito colocado numa base de dados em Access. Após isto a peça é colocada, junto com a sua etiqueta, numa espécie de chouriço de rede, dentro do qual irá para a desalinização.
Foi neste ambiente de escritório/linha de montagem estandartizada da Coreia do Norte que surgiu a AAÓ. Num daqueles momentos de cansaço e no meio de funções repetitivas em que basta a mais pequena coisa na rádio para dar origem a teorias lunáticas e comentários que são… como direi… em fim… estúpidos.
Antes demais esta associação foi criada em honra de um nosso colega dos trabalhos de Maio desse ano, o psiquiatra/estudante de arqueologia Óscar Nogueira cujo entusiasmo pela descoberta arqueológica nos contagiou a todos. Junto com a AAÓ foi criada a Rádio Óscar responsável pela selecção musical naquela fábrica Coreana (na qual todos acreditávamos trabalhar em glória do Generalíssimo, fosse lá ele quem fosse!).
Uma coisa é certa a AAÓ e a Rádio Óscar continuaram a contagiar os demais membros do grupo de trabalho dos Cortiçais com a sua demência bem disposta e loucas teorias. Em técnica de guerrilha atacaremos e fugiremos até que toda a arqueologia subaquática seja contagiada bela boa disposição e ideias parvas (esta última talvez seja mais fácil…). Viva a revolução!!!

Vitor Frazão, membro fundador da AAÓ

quinta-feira, setembro 14, 2006

Porquê naufrágio?


Desde a criação do blog tenho falado num naufrágio. Ora um naufrágio implica que tenham havido uma qualquer embarcação, nem que fosse uma tábua de engomar com remos. Visto que nós não encontramos sequer vestígios da estrutura do barco, como é que podemos afirmar que ali houve um naufrágio? Afinal o amontoado de fragmentos de ânfora podia indicar, somente, que aquele sítio era usado como lixeira.
Há muitos casos desses, pois quando se compra uma ânfora não se paga o contentor mas a bebida! Tal como cibernauta bebe a cerveja e deita a garrafa fora (ou melhor coloca-a para reciclar – não vão os ecologistas começar já com um escarcéu do caraças) também os Romanos compravam o produto, despejavam-no da ânfora para o dolium (uma espécie de “bilha” descomunal, onde cabe, perfeitamente, uma pessoa) e depois atiravam a bela da Haltern70 para os anjinhos. Não pode ter sido esse o caso dos Cortiçais?
Em princípio não. Para já não é de crer que aquele tenha sido um bom sítio para descarregar barcos, o que ainda tem de ser comprovado ou desmentido. Mas o nosso maior indicador é o facto de ter sido encontrado um tipo de cerâmica específica entre os fragmentos de ânfora, a Terra Sigillata. Esta cerâmica, também ela aparecida aos pedaços, foi o equivalente romano à “Vista Alegre”, ou seja peças de luxo usadas para servir à mesa. Este tipo de bens não era simplesmente deitado fora como as ânforas, por isso é que o seu aparecimento, misturado com as Haltern70, aponta para um naufrágio. Estes pequenos fragmentos de cerâmica avermelhada fina não só nos provam que trabalhamos num naufrágio como nos permite dizer quando é ele se deu. Quer dizer, não diz a data e a hora do acidente, não é como se fosse uma caixa negra! Contudo a sua classificação diz-nos como balizar em termos de anos. O que é bastante bom para uma ciência habituada a trabalhar com séculos quando não milénios! Os “cacos” são uma Terra Sigillata chamada Itálica que é apontada como existente entre 15 a.C. a 15 d.C.
É por estas e por outras que a sua descoberta foi tão efusiva! É difícil esquecer a imagem e o som da nossa amiga e arqueóloga Carla Maricato (senhora de uma gargalha sonora e contagiante, já apelidada de Síndroma de Maricato) quando encontrou o belo do caco. Sim leram bem, o som. Pois juro-lhes que a mulher, debaixo de água, gritou: “Sigillata!!” O mais impressionante é que se ouviu! De modo abafado é certo, tal como se tivesse sido dito por alguém com uma almofada encostada à boca. Posso garantir-lhes que Carla Maricato se virou para outro colega, de “caco” em punho, gritando pelo nome do dito! A resposta a isto? Um simples aceno… No entanto, não se pense que esta falta de entusiasmo demoveu “Carlota”, que logo se vira em busca de um colega que partilhasse do seu entusiasmo!
Eu sei que é mórbido ficar tão contente com as provas dum naufrágio. O que basicamente damos a entender é: “Viva, os gajos lixaram-se contra as rochas!!! Provavelmente tiveram todos mortes horríveis ou traumas para a vida, iupi!!!” Eu sei que pode parecer sádico, mas que querem? Já que aconteceu a desgraça ao menos aproveitemo-la. Nós arqueólogos e simpatizantes somos uma cambada de abutres que vivemos de estudar morte e destruição. Acreditem fazemo-lo com as melhores daquelas coisas de que o Inferno está cheio…

quarta-feira, setembro 06, 2006

Queima vs Cortiçais

Estou de volta! Pois é, já viram a vossa sorte? Aposto que, graças ao último post, tinham ficado a pensar que, finalmente e graças a qualquer entidade (Deus, Buda, ou seja lá quem for), se tinham visto livres de mim! Mas não! Para vossa maldição, neste país desgovernado, permitem que gajos como eu publiquem textos e ocupem o espaço de pessoal com talento. Onde está um Estado repressivo quando é preciso?!
Bom, farei o possível para tornar isto tolerável. No último post, o excelentíssimo presidente da GEPS (Que foi?! Também tenho de dar alguma graxa ao chefe!) falou, entre outros assuntos, do que faz mover projectos como os Cortiçais, as pessoas. Não quero dedicar este post a apresentar os vários participantes nas campanhas. Essa será uma função para cada um deles, que deseje contar um pouco das suas experiências em Peniche. Estou aqui para falar antes de um grupo de pessoas que se tornou comum nas andanças da arqueologia subaquática em Peniche, os estudantes e ex-estudantes da Universidade de Coimbra.
“O que tem isso demais?” perguntarão. Afinal também lá estiveram alunos e ex-alunos de outras universidades. Para além do mais, dadas as condições do local dos Cortiçais (a pouca profundidade e perto da costa), este é um excelente sítio pedagógico para futuros arqueólogos subaquáticos. O que me admira é que a primeira campanha em que surgiram alunos da Universidade de Coimbra foi entre 30 de Abril a 15 de Maio de 2005, em plena Queima das Fitas Coimbrã!
O que raio, em nome de todos os barcos do mar, fez com que estes jovens, entre os quais o vosso amigo, decidissem trocar a alcoolicamente anárquica diversão de proporções bíblicas da Queima das Fitas pela tranquilidade subaquática da costa de Peniche? A resposta a esta pergunta desafia a lógica e leva a níveis que rasam a loucura. Afinal quem quereria trocar álcool por água salgada?
Só três pontos é que me fazem aceitar este fenómeno sem enlouquecer. Antes de mais os fragmentos de cerâmica que estudamos pertenceram a recipientes que se não levaram vinho pelo menos levavam algo da família. Assim dá para manter a mesma linha de pensamento da Queima.
Segundo é a diferente relação que se gera entre os autóctones de ambas as cidades durante as actividades supracitadas. Se por um lado os conimbricenses acabam por ter na Queima muitas das bases para a relação de amor-ódio que desenvolveram com os estudantes universitários, os de Peniche já não têm semelhante reacção aos arqueólogos. Afinal na maior parte das vezes nós passamos despercebidos, coisa que é difícil fazer quando se tem dezenas de carros alegóricos carregados de álcool a desfilar pelas ruas. Para além do mais muita da gente de Peniche gosta daquilo que fazemos, gosta que descubramos coisas no seu mar, um mar que tanto lhes diz e ao qual estão tão ligados. Toda esta realidade, em muito herdada dos longos anos de trabalhos arqueológicos sobre o naufrágio do San Pedro de Alcantara, permite que os locais se limitem a deixar-nos lá “nas nossas maluquices”.
Terceiro e último ponto, existe uma filosofia subentendida entre os membros dos trabalhadores dos Cortiçais: “Work hard, play hard”. Até agora temos sido capazes de produzir uma coluna de trabalho coerente, não obstante o facto de nos divertirmos em profundas “apneias de riso”. E quando falo em “apneias de riso” refiro-me a fenómenos que são capazes de nos acompanhar desde o acabar do barco até a viagem para o local de dormida, passando por todo o tempo de descarregar a embarcação. Sendo muitas vezes provocados por algumas das piadas mais secas que alguma vez ouvi. Será que nos andam a pôr algo nas garrafas para além de oxigénio? Não vos posso dizer mas asseguro que nessas alturas parecemo-nos com estudantes ébrios em plena Queima.
Talvez as duas actividades não sejam assim tão diferentes, o que é um descanso para a minha, já perturbada, mente.

Saudações do vosso editor de esplanada.
Vitor Frazão

segunda-feira, setembro 04, 2006

Os rapazes e raparigas que também dão uma ajuda nos Corticais

Pois é, chegou a vez do meu contributo para Os Romanos de Peniche.
Cabe-me a mim, “dirigir” (Expressão brasileira para o acto de conduzir, normalmente aplicada ao veiculo automóvel) esta pequena Associação sem fins lucrativos (Ou seja, pelintra e sem recursos para além do tesouro que constituem os recursos humanos dos nossos associados) à beira-mar plantada.
Na realidade, o nosso contributo singelo para os Corticais, decorre do convite que o Jean-Yves Blot nos fez, em 2004, para dar uma mãozinha. Sabem que o Jean-Yves Blot, para além de grande cientista e grande defensor de que o Zidane no Mundial da Alemanha não deu nenhuma cabeçada a ninguém, é um eterno e incondicional crente nas pessoas, não nas instituições.
Por isso, sem saber muito bem quem era esta malta, lá formulou o pedido.
O GEPS, que se encontrava a trabalhar no sítio arqueológico de Vale de Frades na Lourinhã, a pedido do IPA/CNANS com quem tem um Protocolo, agradeceu e aceitou de imediato, pois perspectivavam-se projectos e trabalhos com meios, barco e tudo, coisa que na Lourinhã não existia (Que o diga o nosso amigo associado Nuno Tiago que ia morrendo afogado quando tentava entrar na água pela praia, tal era a gana arqueológica naquele dia).
E assim começou a nossa aventureira colaboração, que dura, inabalável e mais convicta e motivada que nunca, até aos dias de hoje.
Mas o GEPS, sem meios nenhuns, tem um conjunto de associados de luxo, se não veja-se:

Bancários para tratar das magras economias que são os nossos orçamentos;
Advogados para nos salvar dos problemas do saco azul;
Informáticos para fazer downloads ilegais de software;
Designers para desenhar os nossos pólos muita lindos;
E até arqueólogos, imaginem: Alessia Amato que até é estrangeira (Italiana e digníssima representante das beldades que de lá podemos encontrar cá), veja-se a qualidade do GEPS, Sónia Bombico, natural de Cabrela (O decoro não me permite mais considerandos), entre outros.
Muitos alunos, e de grandes Universidades, Coimbra com quem temos um Protocolo, e de Lisboa, como são digníssimos representantes o Vítor Frazão, a Helena Piçarra, a Sónia “da contabilidade” Simões, e mais um Italiano, Emanuele.
Até temos acompanhamento psiquiátrico, porque a arqueologia subaquática dá cabo da cabeça a um santo (Deve ser do Azoto), com o nosso querido amigo Óscar Nogueira, Psiquiatra de profissão, estudante de arqueologia em Coimbra por definição, Associado do GEPS e honorário da rádio com o mesmo nome e que se constitui como uma subversiva alternativa à eleita Direcção desta nossa Associação. È claro que esta não é uma lista exaustiva dos nomes de todos aqueles que, associados ou não, têm dado o seu grande contributo às nossas actividades, nos Corticais e nos restantes locais onde trabalhamos. Desta forma, a todos eles o meu muito obrigado.

Enfim, fico-me por aqui para ter mais coisas para dizer no futuro, mas penso que ficaram com uma ideia de quem somos no GEPS, faltando acrescentar que temos todos dado o nosso contributo de forma voluntária e não remunerada, com um empenho e motivação que se se verificasse no meio empresarial onde trabalho todos os dias, produziria um País digno de inveja e exemplo a seguir.
A todos eles os meus pessoais agradecimentos, pois sem eles, não poderia dar-me a este imenso luxo que é, contribuir para o estudo e salvaguarda do património arqueológico subaquático da terra que me viu nascer – Peniche.


Jorge Russo
Presidente do GEPS