Lides subaquáticas
O novo milénio marcou várias mudanças tecnológicas e culturais, em grande parte devido à cornucópia de guerras, revoltas e inovações que foi o século XX. Contudo, apesar de passarmos dos carros a vapor a vaivéns espaciais, muitos dos antigos hábitos são como velhos caranguejos com novas conchas.
Um digno representante desta metamorfose inalterável é a interacção entre os sexos e os papéis que a sociedade espera de cada um deles. Nesta New Age onde mais do que nunca valoriza-se o aspecto exterior e a expressividade dos sentimentos, uma ponto continua igual: nós, homens, continuamos sem entender as mulheres.
Se o próprio Mel Gibson tem dificuldade em saber o que elas querem como é que nós, que não lemos mentes, podemos aspirar desvendar tal enigma, que atormenta a humanidade desde a noite dos tempos. Creio que se Adão soubesse nos sarilhos que se ia meter teria optado pela bestialidade. Porém não o fez e, assim, continuamos, todos estes anos depois a tentar deslindar o que é que elas querem. Porque é que nos damos ao trabalho? Porque são mulheres!!! Por muito que nos custe a admitir fazemos quase tudo por elas. É de crer que a maioria das descobertas e invenções da História foram feitas por causa delas. Ao inventar o fogo os homens não pensaram vamos cozinhar mas antes: “agora já podemos procurar gajas no escuro!” Todos os edifícios, monumento e cidades? Feitos para impressionar mulheres. Pintura, música, escultura, literatura, cinema e coisas que tais? Feitos para impressionar mulheres.
Na verdade, como é que nos havemos de saber o que elas querem se elas mesmas não o sabem!!! Inventou-se a metrosexualidade porque pensamos que os que elas queriam era um gajo atraente e sensível. Todavia, quando pensamos que tínhamos a chave do sucesso elas dão uma volta de 180º e dizem que: “marmanjos desses são muito amaricados! Queremos é homens à séria! Barba rija, pêlo no peito! Que em vez de tofu e água mineral, preferiram sandes de mortadela e uma jola.” Claro que se seguirmos estas directivas logo arranjam maneira de mudar de ideias. É impressão minha ou elas gostam é de ser do contra? Ou então o que apreciam, realmente, é ver-nos a matar a cabeça para as agradar!
O facto é que, não obstante todos os gritos por igualdade entre os sexos, cada cromossoma continua e continuará a ter um papel social muito distinto. Curiosamente não diverge muito do modelo padrão, que há vários ciclos solares impera.
Tudo começa com os brinquedos que nos dão na infância. Dos generalistas peluche e “coisas que fazem barulhos engraçados” depressa passa-se para: bonecas, acessórios e cozinhas de brincar para as meninas, bola de futebol (na esperança que os deuses sejam generosos e a criança cresça para ganhar batelões de graveto!!!), armas e carros. Isto não é sexismos! Por muito que afirmemos que, hoje, em dia já não é assim, a realidade fala por si! Ah, e não me venham com aquele argumento que agora também se dão bonecas aos rapazes! Há uma grande diferença entre figuras de acção e bebés de plástico que simulam funções fisiológicas!
Mas o cimentar dos cargos predefinidos de cada sexo começa mais tarde, a partir do momento em que às meninas ensina-mos lides domésticas e aos meninos a reparar coisas. Entanto as raparigas são obrigadas a participar na fascina do lar os rapazes apreendem (normalmente da maneira mais dolorosa) como utilizar uma grande panóplia de ferramentas. Em suma, ficando qualquer um deles privados de consideráveis horas de ócio televisivo.
Nestes dois pontos encontramos as linhas centrais do trabalho dos Cortiçais: limpeza e o que hoje em dia se chama bricolage, e que antigamente denominava-se biscate, ou seja utilizar ferramentas para construir ou reparar algo. Debaixo de água isto traduz-se em aspirar areia e colocar spits. Na nossa casa subaquática, nós, biscateiros e mulheres-a-dias aquáticos, quer sejam homens ou mulheres, fazem-mos de tudo. Claro que as mulheres-a-dias terrestres não têm que registar os objectos presentes quando limpam uma estante, algo provada pelo facto das coisas nunca ficarem no mesmo lugar, mas tirando isso é tal e qual.
Em próximos posts narrarei um poucos destas aventuras domésticas submarinas, como parte da vicissitudes da imersão, com os títulos: “Sugadora, o aspirador do Diabo” e “Spitagem violenta.” Sei que não são os temas mais apelativos do mundo, porém, estou certo que existirá por aí uma classe demográfica que os achará fascinantes.
Vitor Frazão, que começa a ficar sem ideias.
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