quarta-feira, março 14, 2007

Perdidos

Quanto perdemos ao longo da vida? Não me refiro a tempo desperdiçado, pessoas que nos abandonam ou oportunidades desaproveitadas, refiro-me à quantidade de objectos que perdemos a medida que avançamos nesta montanha russa (sem alguns parafusos) que é a vida.
Quer seja perdido por alguns momentos ou para a eternidade, todos já perdemos dezenas de coisas. Aposto que não precisa de puxar muito pela memória para lembrar o último item que perdeu. Passamos metade da nossa vida a perder algo e a outra metade a procura-lo. Desde as incessantes buscas pelo comando (mesmo sabendo que o tínhamos no minuto anterior!) às demandas pelas chaves do carro, ninguém escapa a uma boa investigação.
Existem outros que, não satisfeitos com a actividade de busca no dia-a-dia ainda fazem disso uma profissão. Porque é isso que faz um arqueólogo, procurar coisas! E, nesta actividade (quer seja à superfície ou debaixo de água), há sempre surpresas. Podemos ir à procura de algo e encontrar, precisamente, o que queríamos mas a maior parte das vezes não é assim. Podemos começar por procurar um barco e não encontrar ou pelo menos não do modo que esperávamos. E se pensa que a descoberta é o fim estão enganados, ela só leva a mais buscas! Entramos num círculo vicioso que alguns poderiam considerar frustrante, porém, para nós constitui um estímulo (tenhamos em conta que neste meio à muito delírio. Se a isto acrescentarmos o meio subaquático...).
É por isso que quando alguém na equipa perde algo acabamos por aceitar bastante bem (excepto o dono desse algo e o tipo que perde). Afinal, se alguém não tivesse perdido um barco, há dois mil anos, o projecto dos Cortiçais não existia.
Quando perdeu a Caixa Azul, a Dr. Bombico ficou bastante chateada, mas talvez não ficasse se tivesse em conta o que já se perdeu nos Cortiçais: o punção nº 1, faca de mergulho de Jorge Russo, carreto da bóia de sinalização de Miguel Aleluia, spits (desde algumas partes a spits inteiros), fitas métricas, pesos de lastro, placas de acrílico, lápis (para escrever nas ditas), válvulas de garrafa e sacos de mergulho. Isto, só para citar alguns dos materiais.
Claro que também podemos falar nas horas que perdemos: a tagarelar (na maior parte das vezes n' "A Sardinha"); a lutar para entra e, já agora, sair do fato; a carregar e descarregar o barco; a tratar das peças (etiquetar, fotografar, pesar e embalar); a trabalhar no computador (renomear fotos, inserir dados, manipular o webdsm, fazer relatórios...); sair à noite; assediar e gozar-nos uns aos outros e rir da mesma piada vezes sem conta (é notável como as anedotas mais simples podem ser usadas durante tanto tempo, quando se trabalha com gente tão alucinada). Por outro lado, poucos considerariam isto como tempo perdido...
Em relação aos materiais perdidos nos Cortiçais? Bem, muitos deles são histórias por si só.

Vitor Frazão