domingo, fevereiro 18, 2007

A arte mortífera da barbatana

O primeiro contacto com o mundo do mergulho gera algum medo ou, pelo menos, apreensão. Afinal, é a entrada num meio estranho, completamente anti-natura, para a nossa espécie. Felizmente, as primeiras aulas dos cursos de mergulho retiraram-nos esses receios. São o segundo grupo de aulas que nos reimplantam o terror e, não satisfeitos com isso, reforçam-no.
Sim, os instrutores esperam até termos ganho alguma segurança (e, já agora, termos pago), para introduzir uma série de capítulo que gosto de chamar: "As mil e uma maneira de morrermos debaixo de água". Eles falam de acidentes de descompressão, hipotermia, animais e plantas venenosas, criaturas de dentes afiados e falhas de equipamento. Todo coisas animadoras! Há coisa mais reconfortante que ouvir relatos de tímpanos furados e queimaduras por medusas?
Claro que, a partir do momento que começamos a mergulhar, apercebemo-nos que todos estes perigos são facilmente evitáveis. Infelizmente, depressa vemos que existem perigos para os quais não fomos avisados, como (é neste momento que se devia ouvir uma música dramática, tipo 5ª sinfonia de Beethoven): as barbatanas mortíferas!!!
Este terror é bem conhecido nas hostes dos Cortiçais. Deriva do trabalho, por vezes, ser feito em espaços pequenos e de existirem pessoas com muita vontade de trabalhar. Como as barbatanas são o modo mais rápidos de nos impulsionarmos...
O "barbatanar", rapidamente, atinge proporções de efeito dominó. Num espaço de trabalho pequeno basta um fazer um movimento mais brusco, para se obrigar outro mergulho a dar à barbatana e assim sucessivamente. Dá para ver como as coisas descarrilam? Antes de darmos por isso temos um imbróglio de pessoas a "barbatanar" violentamente e gera-se o pânico. A situação só acalma quando todos se conseguem separar ou se, o primeiro a levar com um barbatana na cara não se desviar instintivamente. O que não é fácil, visto alguns golpes de barbatana serem bastante fortes. Pessoalmente, já me foi arrancado um regulador da boca por um "barbatanada" (ficar se respirar, no meio destas "rixas", pode também levar ao pânico, se não houver auto-controlo).
Porém, algo de positivo pode ser retirado destas brigas subaquáticas. Deveríamos converter o "barbatanar" num novo tipo de arte marcial. A sério, o impacto, destes golpes, faz inveja a qualquer campeão de taekwendo ou até ao próprio Bruce Lee. Para mestre do Dojo dos Cortiçais proponho Sensei Sónia "Barbatana do Dragão" Bombico, cujo domínio da arte mortífera da barbatana permite-lhe dominar adversários com o dobro do seu peso.
Se me perguntaram: qual a validade desta arte para a auto defesa? Terei de dizer que fora de água e com o adversário à nossa frente, não seria muito eficaz.

Vitor Frazão.