Vicissitudes Subaquáticas
No dia 24 de Outubro de 2006 publiquei um post intitulado: "Um dia nos Cortiçais - Parte II". Nesse texto afirmei que dedicaria uma edição às vicissitudes da imersão. Estou aqui para cumprir essa obrigação.
Quando chegamos ao fundo marinho, o primeiro sentimento é de alívio. Após uma viagem de barco, enfiados no nosso apertado e pesado equipamento, à torreira do sul, sobre o balanço das ondas (nada agradável para quem enjoa) a entrada na água é a descontracção total. O equipamento deixa de nos apertar e de pesar tanto, o calor desaparece e já não temos de ouvir o barulho de motores ou moto-bombas. Entramos num mundo de silêncio, só quebrado pelo barulho da nossa própria respiração. Um universo em que tudo deve ser feito em câmara lenta, para não gastar demasiada energia e ter de acabar a imersão prematuramente.
No entanto, nem tudo são rosas (ou algas, se houvesse alguma particularmente atraente) no trabalho subaquático. Por muito que relaxemos, nunca nos podemos esquecer que estamos ali para trabalhar e não por recreio (embora esta linha seja muito ténue entre os fanáticos da arqueologia subaquática). A partir do momento que emergimos o tempo começa a contar decrescentemente e cada um tem uma missão a concluir. Por muito simples que seja o trabalho, o ambiente torna-o mais complicado.
Em primeiro lugar, há uma lei universal que estipula que: "todos nos tornamos mais estúpidos debaixo de água". É como estar ligeiramente, para aí no segundo grau da bebedeira (a quem interesse os grau da bebedeira são: alegre, tocado, bêbado, "aí que vou gregar", coma alcoólico e Boris Yeltsing – com ligeiras variante), não fazemos nada de grave mas cometemos uma série de pequenos erros inexplicáveis. Enfim, trabalhamos, porém, com menos eficiência que em terra.
A interacção com os outros é bastante complexa. Não podemos falar, para além de gritos abafados (como se tivesse-mos uma meia enrolada na boca), e a linguagem gestual que utilizamos torna-se bastante inútil para instruções mais complexas. A escrita em placas de acrílico é um recurso, só que já alguma vez tentaram escrever com luvas grossas, ao sabor da maré? Por muito que nos habituemos a comunicar debaixo de água há sempre situações complicadas. É normal dizerem-nos algo do género: "Pega na fita-métrica e vai para Norte" e nós largamos a fita e vamos para sul. Se mais tarde nos perguntarem porque é que fizemos, não sabemos responder.
Como se não bastasse os movimentos em câmara lenta, os problemas de comunicação, as marés (algumas delas bem forte, como foi relatado no post de 11/07/2006), a estupidez subaquática (aliada há estupidez natural) e o frio, que nos atinge após alguns minutos de mergulho (a não ser que tenhamos uns fatos todo "aí não me toques" e "armados aos cocos"), ainda temos de nos sujeitar aos ataques dos nossos colegas e do equipamento.
Contudo esses são assuntos para os próximos post.
Para a semana: "Barbatanas letais"!
Quando chegamos ao fundo marinho, o primeiro sentimento é de alívio. Após uma viagem de barco, enfiados no nosso apertado e pesado equipamento, à torreira do sul, sobre o balanço das ondas (nada agradável para quem enjoa) a entrada na água é a descontracção total. O equipamento deixa de nos apertar e de pesar tanto, o calor desaparece e já não temos de ouvir o barulho de motores ou moto-bombas. Entramos num mundo de silêncio, só quebrado pelo barulho da nossa própria respiração. Um universo em que tudo deve ser feito em câmara lenta, para não gastar demasiada energia e ter de acabar a imersão prematuramente.
No entanto, nem tudo são rosas (ou algas, se houvesse alguma particularmente atraente) no trabalho subaquático. Por muito que relaxemos, nunca nos podemos esquecer que estamos ali para trabalhar e não por recreio (embora esta linha seja muito ténue entre os fanáticos da arqueologia subaquática). A partir do momento que emergimos o tempo começa a contar decrescentemente e cada um tem uma missão a concluir. Por muito simples que seja o trabalho, o ambiente torna-o mais complicado.
Em primeiro lugar, há uma lei universal que estipula que: "todos nos tornamos mais estúpidos debaixo de água". É como estar ligeiramente, para aí no segundo grau da bebedeira (a quem interesse os grau da bebedeira são: alegre, tocado, bêbado, "aí que vou gregar", coma alcoólico e Boris Yeltsing – com ligeiras variante), não fazemos nada de grave mas cometemos uma série de pequenos erros inexplicáveis. Enfim, trabalhamos, porém, com menos eficiência que em terra.
A interacção com os outros é bastante complexa. Não podemos falar, para além de gritos abafados (como se tivesse-mos uma meia enrolada na boca), e a linguagem gestual que utilizamos torna-se bastante inútil para instruções mais complexas. A escrita em placas de acrílico é um recurso, só que já alguma vez tentaram escrever com luvas grossas, ao sabor da maré? Por muito que nos habituemos a comunicar debaixo de água há sempre situações complicadas. É normal dizerem-nos algo do género: "Pega na fita-métrica e vai para Norte" e nós largamos a fita e vamos para sul. Se mais tarde nos perguntarem porque é que fizemos, não sabemos responder.
Como se não bastasse os movimentos em câmara lenta, os problemas de comunicação, as marés (algumas delas bem forte, como foi relatado no post de 11/07/2006), a estupidez subaquática (aliada há estupidez natural) e o frio, que nos atinge após alguns minutos de mergulho (a não ser que tenhamos uns fatos todo "aí não me toques" e "armados aos cocos"), ainda temos de nos sujeitar aos ataques dos nossos colegas e do equipamento.
Contudo esses são assuntos para os próximos post.
Para a semana: "Barbatanas letais"!
Vitor Frazão.
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