segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mau tempo no Cortiçal

Muitos naufrágios são provocados por mau tempo. Dito isto, não é muito difícil apontar o clima como o “assassino” do barco dos Cortiçais. Para reforçar esta ideia basta-nos olhar para o mar em dia de temporal. As águas revoltas impõem respeito a quem fica em terra e terror a quem vai ao mar. Qualquer catraio da costa, cedo, apreende a olhar o mar como algo belo mas perigosos.
Contudo, seria o mar dos romanos como o nosso? Afinal, muito pode mudar em 2 mil anos.
Para sabermos a resposta precisamos da ajuda dos nossos amigos das “ciências puras e duras”. Sim, porque para muita gente arqueologia não é uma ciência “à séria”. Não, as ciências como deve ser são aquelas que podem medir e calcular cenas, para depois explicar teorias em fórmulas intrincadas (mas quem terá tido a brilhante ideia de misturar letras com números! Como se a matemática não fosse complicada o suficiente!). As chamadas “ciências exactas”. Claro que, qualquer pessoa com actividade cerebral (que não pertença à AAÓ, portanto) vê que as “ciências exactas” não são assim tão... como direi... exactas. Se assim fosse todos os mistérios do Universo já estariam resolvidos e não haveria várias teorias para explicar um fenómeno. Nisso, não me lixem, as “ciências exactas” são iguais à arqueologia. Não me venham dizer que a arqueologia não é uma ciência “à séria” por pertencer às Letras. É mentira! Arqueologia é tão ciência como a física ou a biologia! Basta olhar para um escritório de arqueólogo, está cheio de ferramentas da geologia!
Porém, já estou a divagar (uma característica comum aos arqueólogos. Cuja importância só rivaliza com a tendência para a implicância). A questão mantém-se: o que é que os nosso amigos das “ciências exactas” (à falta de melhor termo) nos podem dizer sobre o mar, no tempo dos romanos? Os estudos indicam que o Oceano Atlântico seria menos revolto, à 2 mil anos atrás. O fenómeno do upwelling, o responsável pelas actuais condições hidrográficas, do Atlântico, não existia nesse período. A nossa costa era um laguinho, em comparação à actualidade (partido do princípio que falamos de um lago calmo, claro).
Apesar do mar não ser tão revoltoso, como hoje em dia, o clima continua a ser um bom “bode expiatório”, para o naufrágio do barco dos Cortiçais. Existem vários fenómenos atmosféricos que podem levar a um naufrágio. Tempestade, que é, provavelmente, a hipótese mais válida. Nevoeiro, especialmente se fosse daqueles nevoeiros densos, nos quais podemos estar a dois metros de outra pessoa e pensamos que estamos sozinhos. Até um tsunami! Certo, se calhar este último é exagero. Se tivesse sido um tsunami estaríamos a tirar ânforas da falésia e não do fundo do mar. Seja como for, mesmo sem a última, há várias hipóteses climatéricas para culpar.

Vitor Frazão