segunda-feira, novembro 13, 2006

Regresso

Um silêncio de morte caí sobre Peniche. As aves fogem da península e as pessoas escondem-se em casa, a tremer de terror. Tudo isto porquê? Aproximasse algum exército? Uma tempestade devastadora? Ou a própria Besta?!
Na verdade chegou, a esta pacífica cidade costeira, a mais receada das catástrofes: um grupo de arqueólogos. Razão para dizer: We’re back!
De 10 a 25 de Novembro acabou-se o sossego para a população. Por onde nós passamos as flores morrem, as mulheres desmaiam, os homens escondem-se e as crianças choram. Durante estes dias as trevas e o infortúnio tombam sobre todos os que têm a infeliz condição de se cruzarem com esta turba de alcoolicamente alegre e tagarelas alucinados arqueólogos! Façamos uma lista dos infelizes:
- Rui Venâncio (peço desculpa Dr. Rui Venâncio), arqueólogo da Câmara, que se vê obrigado a multiplicar-se entre as obrigações profissionais e as incessantes “pedinchisses” dos participantes.
- a staff do café "Cantinho da Fé" que tem de enfrentar, logo às 8h da manhã, um batalhão de arqueólogos e aspirantes a arqueólogos esfomeados.
- o pessoal do restaurante “A Sardinha” que, de novo, têm o azar de não poderem acabar o expediente a horas decentes, por causa de um grupo de “comadres” que, muito depois de terem acabado a refeição, continuam a dar à língua no restaurante.
- toda a restante população, forçada a ouvir as imparáveis parvoíces e constantes gargalhadas de um conjunto de “loucos dos cacos”.
Mas quem são estes Novos Cavaleiros do Apocalipse, estes mensageiros da desgraça (tradução: uns chatos do caraças): - Dr. Carla Maricato, arqueóloga e senhora de uma risada poderosa e contagiante.
- Dr. Bombico, arqueóloga e mestra da mui nobre arte do bem “Bombicar”.
- Gonçalo de Carvalho, fotógrafo, jornalista da BBC, estudante de arqueologia em Londres e fonte inesgotável de histórias.
- Dr. Jean-Yves Blot, arqueólogo e homem cujo discurso é aglomera uma série de estrangeirismos e omonotopeias dignas de um estudo linguístico.
- Helena Piçarra, estudante de arqueologia em Lisboa e, basicamente, uma pobre desgraçada que não sabe no que se veio meter.
- Sónia Simões, estudante de arqueologia em Coimbra e mulher dos sete ofícios (da escalada à pintura, passando pelo cantar o fado e equitação).
- Aléssia Amato, arqueóloga e nosso contacto com a Máfia Italiana.
- Vitor Frazão, estudante de arqueologia e um gajo qualquer.
Enquanto os Penichenses acendem velas, fazem libações e executam macumbas, tudo na mera esperança se sobreviverem a mais esta passagem dos arqueólogos, nós concentramos em trabalho de laboratório. Acabar a inventariação das peças, colocar os últimos pormenores no relatório da escavação e atar todas “as pontas soltas”. Não é um trabalho tão emocionante como mergulhar porém, de modo algum, isto corta a loucura Q.B dos Cortiçentes.
Mal sabem os habitantes de Peniche que a sua má sorte está prestes a piorar. Dentro em breve chegará um exército ainda maior de arqueólogos que, embora mais respeitáveis (ou pelo menos espera-se que sim), serão perfeitamente capazes de moerem a paciência aos nativos. A razão deste fenómeno é o Simpósio “A costa portuguesa no panorama da Rota Atlântica durante a Época Romana”, que decorrerá entre 16 a 18 de Novembro (“os dias do fim” como lhe chamam os autóctones).

Vitor Frazão

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não descreveria tao drásticamente o nosso regresso...mas realmente, pensando na passada noite de Sábado..bom enfim...foi caso para que a "gente" de Peniche tivesse razões para recear a nossa presença nesta antiga ilha!!

10:19 da manhã  
Blogger Os Romanos de Peniche said...

A pedido de várias famílias está, a partir de agora, activado a secção de Comentários ao Blog.

10:24 da manhã  

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