quarta-feira, setembro 06, 2006

Queima vs Cortiçais

Estou de volta! Pois é, já viram a vossa sorte? Aposto que, graças ao último post, tinham ficado a pensar que, finalmente e graças a qualquer entidade (Deus, Buda, ou seja lá quem for), se tinham visto livres de mim! Mas não! Para vossa maldição, neste país desgovernado, permitem que gajos como eu publiquem textos e ocupem o espaço de pessoal com talento. Onde está um Estado repressivo quando é preciso?!
Bom, farei o possível para tornar isto tolerável. No último post, o excelentíssimo presidente da GEPS (Que foi?! Também tenho de dar alguma graxa ao chefe!) falou, entre outros assuntos, do que faz mover projectos como os Cortiçais, as pessoas. Não quero dedicar este post a apresentar os vários participantes nas campanhas. Essa será uma função para cada um deles, que deseje contar um pouco das suas experiências em Peniche. Estou aqui para falar antes de um grupo de pessoas que se tornou comum nas andanças da arqueologia subaquática em Peniche, os estudantes e ex-estudantes da Universidade de Coimbra.
“O que tem isso demais?” perguntarão. Afinal também lá estiveram alunos e ex-alunos de outras universidades. Para além do mais, dadas as condições do local dos Cortiçais (a pouca profundidade e perto da costa), este é um excelente sítio pedagógico para futuros arqueólogos subaquáticos. O que me admira é que a primeira campanha em que surgiram alunos da Universidade de Coimbra foi entre 30 de Abril a 15 de Maio de 2005, em plena Queima das Fitas Coimbrã!
O que raio, em nome de todos os barcos do mar, fez com que estes jovens, entre os quais o vosso amigo, decidissem trocar a alcoolicamente anárquica diversão de proporções bíblicas da Queima das Fitas pela tranquilidade subaquática da costa de Peniche? A resposta a esta pergunta desafia a lógica e leva a níveis que rasam a loucura. Afinal quem quereria trocar álcool por água salgada?
Só três pontos é que me fazem aceitar este fenómeno sem enlouquecer. Antes de mais os fragmentos de cerâmica que estudamos pertenceram a recipientes que se não levaram vinho pelo menos levavam algo da família. Assim dá para manter a mesma linha de pensamento da Queima.
Segundo é a diferente relação que se gera entre os autóctones de ambas as cidades durante as actividades supracitadas. Se por um lado os conimbricenses acabam por ter na Queima muitas das bases para a relação de amor-ódio que desenvolveram com os estudantes universitários, os de Peniche já não têm semelhante reacção aos arqueólogos. Afinal na maior parte das vezes nós passamos despercebidos, coisa que é difícil fazer quando se tem dezenas de carros alegóricos carregados de álcool a desfilar pelas ruas. Para além do mais muita da gente de Peniche gosta daquilo que fazemos, gosta que descubramos coisas no seu mar, um mar que tanto lhes diz e ao qual estão tão ligados. Toda esta realidade, em muito herdada dos longos anos de trabalhos arqueológicos sobre o naufrágio do San Pedro de Alcantara, permite que os locais se limitem a deixar-nos lá “nas nossas maluquices”.
Terceiro e último ponto, existe uma filosofia subentendida entre os membros dos trabalhadores dos Cortiçais: “Work hard, play hard”. Até agora temos sido capazes de produzir uma coluna de trabalho coerente, não obstante o facto de nos divertirmos em profundas “apneias de riso”. E quando falo em “apneias de riso” refiro-me a fenómenos que são capazes de nos acompanhar desde o acabar do barco até a viagem para o local de dormida, passando por todo o tempo de descarregar a embarcação. Sendo muitas vezes provocados por algumas das piadas mais secas que alguma vez ouvi. Será que nos andam a pôr algo nas garrafas para além de oxigénio? Não vos posso dizer mas asseguro que nessas alturas parecemo-nos com estudantes ébrios em plena Queima.
Talvez as duas actividades não sejam assim tão diferentes, o que é um descanso para a minha, já perturbada, mente.

Saudações do vosso editor de esplanada.
Vitor Frazão