segunda-feira, outubro 23, 2006

Um dia nos Cortiçais - Parte II


Se bem se lembram na última edição comecei a falar da vida nos Cortiçais. Contudo, como as ideias começam a rarear tive de fazer render o «peixe» e deixar a conclusão desse relato para esta edição. Para além disso, convenhamos: o texto estava a ficar grande demais e textos grandes são uma seca!
Tínhamos ficado onde? À sim! A chegada do Argos ao local de mergulho.
Pois bem, uma vez chegados ao sítio só queremos pôr o equipamento e saltar para a água. Mas, «cadelas apressadas parem cães cegos...» por isso há que ir com calma e verificar o material uns dos outros. O primeiro a descer é o que vai colocar a mangueira da sugadora no local, para que ela possa tirar areia. Só então os restantes descem, sobre a vigilância do «homem do barco» que tem a função de ligar a moto-bomba da sugadora e o «privilégio» de ficar a ouvir o seu barulho ensurdecedor, capaz de rivalizar com um motor a jacto.
Entretanto debaixo de água os mergulhadores vivem a melhor altura do dia... A partir do momento que fazem a imersão aquele calor abrasador e o aperto que sentiam por todo o corpo, causados pelo fato, desaparecem. Ficamos num momento Zen, em que o som da nossa respiração é a única distracção. Claro que nem todos os mergulhos são ideais e mesmo um mergulho que começa bem pode tornar-se desconfortável.Mas as vicissitudes das imersões nos Cortiçais ficarão para outra edição.
À medida que vai acabando o mergulho vamos subindo para o barco, já que nem todos têm o mesmo que fazer, nem os mesmos pulmões. Que o diga Carla Maricato, dona de uma capacidade de economia de ar fora do normal, que muitas vezes tem de acabar o que os outros deixaram a meio. Como ela disse e muito bem: “É o que dá trabalhar com gajos vão-se embora e deixam tudo desarrumado”.
Acabado o mergulho da manhã e tendo puxado todos para o barco (o que por vezes ganha características de autêntica pesca ao atum) preparamo-nos para ir almoçar. Se as coisas correm bem (escusado será dizer que raramente isso acontece) temos a equipa terrestre à nossa espera com o repasto. Senão lá temos de ir colocando as garrafas a encher, para o mergulho da tarde, enquanto aguardamos.
Uma vez chegados os víveres dá-se mais uma prova de que o projecto dos Cortiçais é feito por uma cambada de labregos. Nem é tanto o facto de fazermos um piquenique ali mesmo no cais! Isso até é castiço! É mais o fenómeno que se dá quando nos esquecemos das ferramentas adequadas para comer. Então dão se cenas como beber sopa através de tubos de mergulho ou copos de plástico, comer arroz com as etiquetas dos materiais e outras parolices...
Finalizado o almoço fazem-se as substituições entre as equipas, se for caso disso e voltamos a embarcar, com garrafas reenchidas, pois é hora de novo round subaquático.
Após o terminus do mergulho da tarde, por vezes a horas mais avançadas do que gostaríamos, voltamos ao ritual da manhã, mas inverso. Descarregar o barco, ir ao armazém, lavar o equipamento e, claro, novo combate com o fato de mergulho (de tal modo intenso que há quem considere dormir com ele vestido). Felizmente, o cheiro a neopreme e outras substâncias que me recuso a nomear, faz com que se desista da ideia.
Nesse momento, o que se quer é chegar ao Q.G. e tomar um banho antes de irmos para o “Sardinha”, o restaurante que tem a infelicidade de nos dar de comer. Escusado será dizer que se no pequeno-almoço se fez o briefing do que havia a fazer, ao jantar se fala do que foi feito e descoberto nesse dia e no que deve ser feito no dia seguinte. Claro que no meio das conversas sérias se contam as peripécias da jornada, quer da equipa de mar quer da de terra.
Conclusão, é raro sairmos do restaurante antes das 23h, para desespero do pessoal do “Sardinha”, que são demasiado educados para nos correrem a pontapé.
A partir daqui os destinos são vários. Os mais corajosos aventuram-se na louca noite de Peniche, não muito já que no dia seguinte também há trabalho. Outros vão para o Q.G. fazer a sua ficha de mergulho, que não conseguiram preencher antes do jantar. Estas fichas são essenciais para o trabalho dos Cortiçais visto que é nelas que são reproduzidos os desenhos, medições e todos os outros trabalhos subaquáticos. Em suma: raro é o trabalhador dos Cortiçais que se vá deitar antes da 1h.
Às 7h do dia seguinte lá estamos de volta.
O que é que leva um grupo de pessoas a dedicar-se a esta actividade tão cansativa? Alguns até usam o tempo de férias para isto e muitos sequer estão profissionalmente relacionados com a Arqueologia!
Gosto de pensar que é a sua intensidade que torna este trabalho tão atractivo. Uma pessoa está tão envolvida, esforça-se tanto e diverte-se tanto que se esquece dos problemas. No final sai-se com uma sensação de obra feita e com um milhão de histórias para contar.
Ou então somos mesmo doidos!
Julgue por si mesmo!

Vitor Frazão

2 Comments:

Blogger Unknown said...

grupos que fazem parte cortical ,

to proucurando pra fazer trabalho !

2:32 da tarde  
Blogger Vitor Frazão said...

Lamento informar mas o projecto dos Cortiçais está parado desde os fins de 2006. Assim como o blog que acabou por ser abandonado por falta de histórias para contar.
Contudo, uma opcção seria o grupo GEPS que sempre faz uns trabalhos em arqueologia subaquática na Lourinhã...

10:19 da manhã  

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