quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Caixa Azul










Com que então…“Barbatanas Letais”! Isso cheirou-me a possível ataque à minha pessoa, por isso mesmo decidi antecipar-me e escrever eu própria um post a esse respeito!
Por bem, dizem por aí que sou dona de uma “barbatanada” poderosa que não escolhe o inimigo, que normalmente se encontra à minha retaguarda…! Óbvio que sou capaz de passar todo um mergulho a dar com as minhas barbatanas num companheiro que se encontre próximo de mim…é pá não o vejo…é normal que leve! Tal como o Vítor referiu a “estupidez subaquática” é uma prática recorrente na nossa equipa, e portanto parece-me muito pouco inteligente a malta não manter a distância de segurança em relação às minhas barbatanas. Prometo que nas próximas campanhas passo a ter mais atenção, mas isto de poder ter um mergulhador ao lado esquerdo, direito, atrás ou mesmo por cima…não é fácil...peço desculpa aos lesados! È caso para dizer: eles andam aí…algures…!
Eu proponho no entanto uma reflexão em relação à questão da “estupidez subaquática”…não sei mas dá-me ideia que isso é mais um mito que outra coisa…! Afinal de contas, eu acho que era perfeitamente capaz de me perder com uma Caixa Azul com todo o material necessário ao trabalho arqueológico subaquático á superfície…sem dificuldade nenhuma pá! Pois é caros leitores, foi o que aconteceu a esta vossa amiga num belo dia de Verão ao largo dos Cortiçais. Entrei na água, desci, e quando cheguei ao fundo encaminhei-me com a bela da Caixa Azul para o local da escavação…pelo menos era esta a minha intenção. Passados alguns minutos e muitas barbatanadas depois não sabia onde estava…não reconhecia o fundo, não via os meus companheiros, não havia rochas spitadas, nem sugadoura…! Achei estranho e decidi guardar a bela da Caixa Azul assim ao virar da esquina de umas rochas e vir á superfície ver onde estava. Relembro que esta caixa continha: pranchetas para notas subaquáticas, fitas métricas, etiquetas, sacos para cacos e um profundímetro. Quando cheguei à superfície, vi onde estava e percebi que tinha rumado a Sul e não a Norte como deveria ter feito, fiz sinal de OK ao barco e mergulhei de novo para recuperar a Caixa Azul que tinha ficado no fundo. Desci, dei umas voltas e nada da Caixa Azul, a desorientação era grande e tinha perdido a noção do espaço, não conseguia encontrar a Caixa em lado nenhum, espreitei por entre as rochas e não consegui reconhecer o sítio. Meus amigos senti pela primeira vez o k terá sentido o pequeno peixe Nemo quando se perdeu do Pai…é verdade…foi um momento de extrema violência emocional! Voltei ao barco desolada e sem a Caixa Azul!
Mas desenganem-se se acham que não voltei a ver a minha rica Caixa Azul, aliás ela até me valeu uma garrafa de champanhe no dia seguinte no Restaurante.
Pela manha do dia seguinte, montámos uma operação a que chamámos: “Á procura da Saudosa Caixa Azul!”. Três bravos Cavaleiros da Barbatana procuraram-na por montes e vales subaquáticos, e um deles recuperou a minha Caixa Azul!
Moral da história: não se devem usar Caixas Azuis em actividades arqueológicas subaquáticas! LOL
Óbvio que não se deve é abandonar caixas no fundo, sem sabermos exactamente onde as deixamos…mas isso é um pormenor, verdade das verdades é que não voltei a levar aquela caixa para o fundo até ao final da campanha, nem deixei que ninguém a levasse!

Até um próximo post!
Saudações subaquáticas da Bombico!

domingo, fevereiro 18, 2007

A arte mortífera da barbatana

O primeiro contacto com o mundo do mergulho gera algum medo ou, pelo menos, apreensão. Afinal, é a entrada num meio estranho, completamente anti-natura, para a nossa espécie. Felizmente, as primeiras aulas dos cursos de mergulho retiraram-nos esses receios. São o segundo grupo de aulas que nos reimplantam o terror e, não satisfeitos com isso, reforçam-no.
Sim, os instrutores esperam até termos ganho alguma segurança (e, já agora, termos pago), para introduzir uma série de capítulo que gosto de chamar: "As mil e uma maneira de morrermos debaixo de água". Eles falam de acidentes de descompressão, hipotermia, animais e plantas venenosas, criaturas de dentes afiados e falhas de equipamento. Todo coisas animadoras! Há coisa mais reconfortante que ouvir relatos de tímpanos furados e queimaduras por medusas?
Claro que, a partir do momento que começamos a mergulhar, apercebemo-nos que todos estes perigos são facilmente evitáveis. Infelizmente, depressa vemos que existem perigos para os quais não fomos avisados, como (é neste momento que se devia ouvir uma música dramática, tipo 5ª sinfonia de Beethoven): as barbatanas mortíferas!!!
Este terror é bem conhecido nas hostes dos Cortiçais. Deriva do trabalho, por vezes, ser feito em espaços pequenos e de existirem pessoas com muita vontade de trabalhar. Como as barbatanas são o modo mais rápidos de nos impulsionarmos...
O "barbatanar", rapidamente, atinge proporções de efeito dominó. Num espaço de trabalho pequeno basta um fazer um movimento mais brusco, para se obrigar outro mergulho a dar à barbatana e assim sucessivamente. Dá para ver como as coisas descarrilam? Antes de darmos por isso temos um imbróglio de pessoas a "barbatanar" violentamente e gera-se o pânico. A situação só acalma quando todos se conseguem separar ou se, o primeiro a levar com um barbatana na cara não se desviar instintivamente. O que não é fácil, visto alguns golpes de barbatana serem bastante fortes. Pessoalmente, já me foi arrancado um regulador da boca por um "barbatanada" (ficar se respirar, no meio destas "rixas", pode também levar ao pânico, se não houver auto-controlo).
Porém, algo de positivo pode ser retirado destas brigas subaquáticas. Deveríamos converter o "barbatanar" num novo tipo de arte marcial. A sério, o impacto, destes golpes, faz inveja a qualquer campeão de taekwendo ou até ao próprio Bruce Lee. Para mestre do Dojo dos Cortiçais proponho Sensei Sónia "Barbatana do Dragão" Bombico, cujo domínio da arte mortífera da barbatana permite-lhe dominar adversários com o dobro do seu peso.
Se me perguntaram: qual a validade desta arte para a auto defesa? Terei de dizer que fora de água e com o adversário à nossa frente, não seria muito eficaz.

Vitor Frazão.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Vicissitudes Subaquáticas

No dia 24 de Outubro de 2006 publiquei um post intitulado: "Um dia nos Cortiçais - Parte II". Nesse texto afirmei que dedicaria uma edição às vicissitudes da imersão. Estou aqui para cumprir essa obrigação.
Quando chegamos ao fundo marinho, o primeiro sentimento é de alívio. Após uma viagem de barco, enfiados no nosso apertado e pesado equipamento, à torreira do sul, sobre o balanço das ondas (nada agradável para quem enjoa) a entrada na água é a descontracção total. O equipamento deixa de nos apertar e de pesar tanto, o calor desaparece e já não temos de ouvir o barulho de motores ou moto-bombas. Entramos num mundo de silêncio, só quebrado pelo barulho da nossa própria respiração. Um universo em que tudo deve ser feito em câmara lenta, para não gastar demasiada energia e ter de acabar a imersão prematuramente.
No entanto, nem tudo são rosas (ou algas, se houvesse alguma particularmente atraente) no trabalho subaquático. Por muito que relaxemos, nunca nos podemos esquecer que estamos ali para trabalhar e não por recreio (embora esta linha seja muito ténue entre os fanáticos da arqueologia subaquática). A partir do momento que emergimos o tempo começa a contar decrescentemente e cada um tem uma missão a concluir. Por muito simples que seja o trabalho, o ambiente torna-o mais complicado.
Em primeiro lugar, há uma lei universal que estipula que: "todos nos tornamos mais estúpidos debaixo de água". É como estar ligeiramente, para aí no segundo grau da bebedeira (a quem interesse os grau da bebedeira são: alegre, tocado, bêbado, "aí que vou gregar", coma alcoólico e Boris Yeltsing – com ligeiras variante), não fazemos nada de grave mas cometemos uma série de pequenos erros inexplicáveis. Enfim, trabalhamos, porém, com menos eficiência que em terra.
A interacção com os outros é bastante complexa. Não podemos falar, para além de gritos abafados (como se tivesse-mos uma meia enrolada na boca), e a linguagem gestual que utilizamos torna-se bastante inútil para instruções mais complexas. A escrita em placas de acrílico é um recurso, só que já alguma vez tentaram escrever com luvas grossas, ao sabor da maré? Por muito que nos habituemos a comunicar debaixo de água há sempre situações complicadas. É normal dizerem-nos algo do género: "Pega na fita-métrica e vai para Norte" e nós largamos a fita e vamos para sul. Se mais tarde nos perguntarem porque é que fizemos, não sabemos responder.
Como se não bastasse os movimentos em câmara lenta, os problemas de comunicação, as marés (algumas delas bem forte, como foi relatado no post de 11/07/2006), a estupidez subaquática (aliada há estupidez natural) e o frio, que nos atinge após alguns minutos de mergulho (a não ser que tenhamos uns fatos todo "aí não me toques" e "armados aos cocos"), ainda temos de nos sujeitar aos ataques dos nossos colegas e do equipamento.
Contudo esses são assuntos para os próximos post.
Para a semana: "Barbatanas letais"!

Vitor Frazão.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Maus hábitos

Já repararam quão fácil é adoptar os defeitos alheios. Independentemente, do que entendamos por defeitos, a verdade é que mais facilmente somos contaminados pelos maus hábitos, de outra pessoa, que pelos bons.
Numa hipotética discussão entre o gajo mais estúpido há face da terra (Todos sabem de quem estou a falar... um tipo baixinho, sotaque texano, gosto pela pinga e pelo petróleo, cujo nome tem qualquer coisa haver com arbusto...) e o maior intelectual do mundo (desculpem mas não me lembro de ninguém. É mais fácil lembrar-me de gente burra que inteligente), asseguro-vos que é o intelectual que desce ao nível do estúpido e não este que sobe ao nível do intelectual.
Os mau hábitos aderem os bons repelem. Não existe ninguém imune a esta tendência e longe de nós, membro do Clã da Cortiça Marítima, pensar que o conseguiríamos fazer. Entre as nossas hostes, de arqueólogos e simpatizantes, existem diversos maus hábitos. Cada participante nos Cortiçais tem o seu pequeno rol de manias patológicas e tiques na fala. Contudo, não vou entrar em casos específicos (não só seria muito longo como me arriscava a ser linchado violenta e lentamente pelas partes envolvidas) limitando-me a falar de alguns hábitos que acabamos por adoptar como um grupo.
Por onde começar? Bem, já aqui têm-se feito referência, várias vezes, ao hábito de este grupo de ficar nos cafés e restaurantes mais do que é necessário (post de 1 de Janeiro de 2007). Porém, o costume de tagarelar incessantemente à mesa e ter refeições demoradas é tão tipicamente português, que não se pode considerar como um defeito adquirido nos Cortiçais.
Todavia não é preciso sair-se do tema dos restaurantes e cafés para se apontar uma pequena doença, de entre muitas, que os membros dos Cortiçais desenvolveram: a síndrome de sair-sem-pagar. Passo a explica como tal maleita foi criada. Uma vez que os pequenos-almoços, almoços e jantares da equipa são pagos pela Câmara de Peniche (que deve entender toda e qualquer referência, a tal entidade, como o mais graxista possível), como parte de um protocolo, não nos costumamos preocupar com a despesa. Não que comamos à maluca! Afinal, isso seria meio caminho para vermos o nosso orçamento reduzido! Só que, como consequência, habituamo-nos a sair dos locais onde temos as refeições programadas sem sequer levar a mão à carteira. Ora, é fácil compreender como este costume pode degenerar se for feito fora de contexto... e como os hábitos custam a mudar...
Outro problema que os membros dos Cortiçais padecem é a aquisição dos tiques de fala uns dos outros, o que é compreensível num grupo que esteja muito tempo junto. Estes tiques são diversos, temos: os estrangeirismos (como chamar bug a um problema) e omonotopeias de Jean-Yves Blot, o nosso comunicativo líder; a poderosa e nasal gargalhada da arqueóloga Carla Maricato, cujas proporções contagiosas levou à nomeação de síndroma de Maricato; as expressões em italiano/português do Brasil de Aléssia Amato, arqueóloga italiana responsável pela ligação com a Máfia (não, não me refira a Alberto João Jardim); o discurso repleto de “pás” de Gonçalo de Carvalho, arqueólogo, piloto e jornalista de BBC; o hábito de expor uma ideia enumerando os vários pontos, como o faz Jorge Russo, presidente da GEPS e a tendência, enervante, de Vitor Frazão pegar em tudo e qualquer coisas para fazer um teoria irrisória (querendo irrisória dizer ridícula). Se no início estas características são circunscritas, depressa se difundem ao ponto de ser impossível distinguir de quem provêm.
Mais costumes típicos dos Cortiçais: deitar tarde e levantar cedo; nunca sair ou chegar a um sítio a horas (outra ponto que fiz referência no post do dia 2 de Janeiro de 2007); uma relutância imensa em abandonar certas piadas, histórias ou expressão (regra geral em cada campanha há alguma piada, história ou expressão que é utilizada para todas as ocasiões) e, finalmente, a completa impossibilidade de manter uma conversa séria por um período superior a 10 minutos.

Mais um dedo na ferida pelo Presidente da AAÓ.