segunda-feira, janeiro 29, 2007

Estava bêbado!

Álcool! Não, não estou a pedir uma bebida. Se bem que a secura já começa a apertar. Também não preciso de um desinfectante. A questão é outra.
Estava aqui a pensar com os meus botões (ou estaria, se os tivesse) nas possíveis causas do naufrágio do barco do Cortiçais. Foi então que se fez luz! Álcool! Raciocinem comigo. As maiorias dos acidentes (quer sejam rodoviários, industriais ou culinários) são de causa humana, sendo, regra geral, provocados por distracções ou estupidez. E qual é o melhor catalizador para a estupidez? Álcool!
Pelo menos é o que gostamos de pensar, visto que isso permite fazer do álcool desculpa para tudo. A desculpa da bebedeira é tão boa que é de admirar que não seja usada, com frequência, nos tribunais. “À acusação de ter efectuado um desvio fiscal de 10 milhões de euros, o meu cliente, só tem a declarar que estava bêbado!” A absolvição seria imediata! Asseguro-vos que se Hitler tivesse sido julgado, teria argumentado: “O Holocausto? Tinha bebido umas cervejas, desculpem lá!”
Estaria o timoneiro, do barco do Cortiçais, bêbado? Bem, não é por nada mas muitos afirmam que a Haltern 70 transportariam vinho, de alguma espécie. Não é difícil imaginar a tripulação a abrir uma ânfora à socapa. Ora, uma vez que os romanos estavam habituados a beber vinho com água (Cambada de tenrinhos!), o vinho puro deve-os ter embebedado bastante depressa. A partir daí foi o descalabro! Desviaram-se da rota, chamando a atenção dos centuriões, que logo iniciam a perseguição, nas suas poderosas embarcações, com as sirenes ligadas (provavelmente feitas com velas). Antes de serem apanhados batem nas rochas e vão ao fundo. O mais certo seria o muitos deles nadarem para a costa, só para serem apanhados pelos legionários em terra. Sim, porque um bêbado é quase indestrutível! Um gajo é cuspido dum carro, levanta-se, sacode a poeira e continua, perguntando: “Onde é o tasco?” Claro, que no dia seguinte é capaz de não se conseguir mexer, mas tudo bem! Seja como for o mais certo é todos os marinheiros dos Cortiçais, após serem apanhados, devem ter sido obrigados a soprar no balão. Como seriam estes aparelhos na época romana? Não sei mas, provavelmente, envolveria bexigas de porco e coisas do género.
Os críticos da AAÓ afirmarão que isso é uma idiotice! Que não só é impossível saber se estavam bêbados e que barcos com sirenes e aparelhos de teste da alcoolémia não existiam entre os romanos. Calúnias, é o que eu digo! Concordo que estas afirmações se aproximam ligeiramente da ficção (muito ligeiramente) e podem ser meras transposições de uma realidade actual para o passado, levando a violentos anacronismos (tipo Julio César e Isabel I na mesma sala). Mas isso não quer dizer que não seja verdade! Há pelo menos uma probabilidade em 3 biliões! Se não se pode provar que isto sucedeu também não há provas o contrário.

Presidente da AAÓ.
Associação dos Amigos do Óscar – há 10 meses a expandir os horizontes da arqueologia em Portugal, alterando (ligeiramente) o tecido da realidade.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mau tempo no Cortiçal

Muitos naufrágios são provocados por mau tempo. Dito isto, não é muito difícil apontar o clima como o “assassino” do barco dos Cortiçais. Para reforçar esta ideia basta-nos olhar para o mar em dia de temporal. As águas revoltas impõem respeito a quem fica em terra e terror a quem vai ao mar. Qualquer catraio da costa, cedo, apreende a olhar o mar como algo belo mas perigosos.
Contudo, seria o mar dos romanos como o nosso? Afinal, muito pode mudar em 2 mil anos.
Para sabermos a resposta precisamos da ajuda dos nossos amigos das “ciências puras e duras”. Sim, porque para muita gente arqueologia não é uma ciência “à séria”. Não, as ciências como deve ser são aquelas que podem medir e calcular cenas, para depois explicar teorias em fórmulas intrincadas (mas quem terá tido a brilhante ideia de misturar letras com números! Como se a matemática não fosse complicada o suficiente!). As chamadas “ciências exactas”. Claro que, qualquer pessoa com actividade cerebral (que não pertença à AAÓ, portanto) vê que as “ciências exactas” não são assim tão... como direi... exactas. Se assim fosse todos os mistérios do Universo já estariam resolvidos e não haveria várias teorias para explicar um fenómeno. Nisso, não me lixem, as “ciências exactas” são iguais à arqueologia. Não me venham dizer que a arqueologia não é uma ciência “à séria” por pertencer às Letras. É mentira! Arqueologia é tão ciência como a física ou a biologia! Basta olhar para um escritório de arqueólogo, está cheio de ferramentas da geologia!
Porém, já estou a divagar (uma característica comum aos arqueólogos. Cuja importância só rivaliza com a tendência para a implicância). A questão mantém-se: o que é que os nosso amigos das “ciências exactas” (à falta de melhor termo) nos podem dizer sobre o mar, no tempo dos romanos? Os estudos indicam que o Oceano Atlântico seria menos revolto, à 2 mil anos atrás. O fenómeno do upwelling, o responsável pelas actuais condições hidrográficas, do Atlântico, não existia nesse período. A nossa costa era um laguinho, em comparação à actualidade (partido do princípio que falamos de um lago calmo, claro).
Apesar do mar não ser tão revoltoso, como hoje em dia, o clima continua a ser um bom “bode expiatório”, para o naufrágio do barco dos Cortiçais. Existem vários fenómenos atmosféricos que podem levar a um naufrágio. Tempestade, que é, provavelmente, a hipótese mais válida. Nevoeiro, especialmente se fosse daqueles nevoeiros densos, nos quais podemos estar a dois metros de outra pessoa e pensamos que estamos sozinhos. Até um tsunami! Certo, se calhar este último é exagero. Se tivesse sido um tsunami estaríamos a tirar ânforas da falésia e não do fundo do mar. Seja como for, mesmo sem a última, há várias hipóteses climatéricas para culpar.

Vitor Frazão

terça-feira, janeiro 16, 2007

Como terá naufragado o barco dos Cortiçais?


Esta é a grande questão! Tal é a sua magnitude que pode ser colocada entre as grandes questões da História! Qual é o sentido da vida? De onde vimos? O que é que as mulheres querem? Porque é que os porta-luvas nunca têm luvas? Para que serve três submarinos num país em chamas?
O desafio que a Associação dos Amigos do Óscar lança, quer aos cibernautas quer aos membros do Clã da Cortiça Marítima, é que desvendem este mistério. Acreditem nenhuma ideia é demasiado disparatada (afinal trata-se da AAÓ).
É quase certo que, a embarcação, tenha embatido numa das baixas. Estas rochas, visíveis com a maré baixa mas submersas na maré-alta (mesmo nessas alturas dá para andarmos nelas com água pela cintura), são autênticas ratoeiras e já estaria presentas no período romano. Contudo o que é que os levaria a aproximarem-se tanto da costa?
Uma possibilidade é que estaria a efectuar um desembarque. A AAÓ sustenta esta história e temos provas! Lembram-se dum post em Outubro de 2006 no qual mostramos a descoberta de um espelho retrovisor dum barco romano? Os sépticos dirão que o espelho é duma mota, mas a AAÓ é que sabe! Dizemos mais! Não só é um espelho retrovisor de um barco romano como foi um dos responsáveis pelo acidente! Parece-nos óbvio, que o espelho partiu-se quando o timoneiro estava a tentar “estacionar” o barco para a descarga. Ora sem o espelho a manobra tornou-se mais difícil e pimba! O barco bate, o casco rompe e vai ao fundo antes de chegar o reboque da Barcus Clubes Lusitanos (equivalente, da época, à ACP).
Esperamos mais teorias.

Presidente da AAÓ

terça-feira, janeiro 02, 2007

Estranhos hábitos


Qual é o hábito mais característico dos portugueses? Existem vários. Somos um povo com muitos costumes interessante mas poucos deles aconselháveis. Porém, há um hábito que sobressai: o gosto pelo convívio. Todos os turistas dizem que os portugueses são hospitaleiros e sabem receber. Isto para nós é estranho já que nos vemos como um povo extremamente antipáticos, pelo menos uns com os outros. Que raio, se nós somos simpáticos as pessoas antipáticas em Inglaterra devem ser pavorosas!
No entanto, os estrangeiros estão certos, pelo menos em parte. Fazemos tudo para nos agruparmos, para convivermos! Juntamo-nos nos tascos, cafés, centros comerciais, estádios de futebol e acidentes.
Não há nada que atraía mais gente em Portugal do que uma acidente. Minto, uma câmara de televisão atrai, pelo menos, tanta gente como um acidente. Se for um acidente que esteja a ser filmado para o telejornal então... as pessoas são puxadas para o local como traça à luz! Outros povos fogem duma explosão, os portugueses são meninos para se aproximarem de pescoços esticados e a perguntar: “O que é aquilo? O que é que se passa ali, hã?” Somos uns seres curiosos, pá! Não que me esteja a queixar! Afinal a arqueologia é isso. A arqueologia começa quando um gajo olha e perguntas: “Que é isto”? e começa a esgravatar. Nos Cortiçais foi assim. O achador olhou, viu coisas que nunca tinha visto, tirou-as, mostrou-as a quem é de direito e zás, temos um sítio arqueológico!
Mas voltemos ao vício "tuga" para o convívio. Nós não só fazemos tudo para nos agruparmos, seja com quem for, como para nos ligarmos a quem nos agrupamos. Vejamos os acidentes: toda a gente tem opinião sobre o que aconteceu e debatem essa opinião, calorosamente, com quem quer que esteja ao pé. Mesmo que não a conheça de lado nenhum!
As salas de espera, esses grandes centros de agrupamento involuntário, são o exemplo perfeito. O mais comum numa sala de espera é uma pessoa falar dos mais variados, e por vezes intímos, assuntos com alguém que conheceu cinco minutos antes. Certo, há que ter em conta que a miséria aproxima as pessoas e poucas misérias se comparam a uma sala de espera. Até porque se há coisa que os portugueses odeiam fazer é esperar! Um inglês está ali muito bem sossegadinho, numa fila (outro fenómeno odiado pelos "tugas") e não fala com ninguém. Um português? Por favor! Não lhe peça para esperar e estar calado!
O português é um animal social! Mesmo quando não vamos ao estádio juntamo-nos com os amigos para ver o jogo na televisão. E são situações destas que provavelmente nos valem a fama de hospitaleiros. Não é o ver o jogo em conjunto. É o que se segue e muitas vezes antecedeu: a patuscada. Nós gostamos de nos juntarmos e estar com os outros porque o estamos bem é há mesa, a comer, a beber e a mandar comentários.
O mais importante é que esta atitude contagia os demais povos.
Vejamos o exemplo da equipa dos Cortiçais onde a maioria é portuguesa mas temos: director francês, membros italianos e colaboradores alemães. Este “maranhal” quando se junta numa mesa é o terror de qualquer empregado. Que o digam o pessoal do restaurante “A Sardinha”.
Primeiro é escusado marcar uma hora para se começar a comer: nunca chegamos às horas programadas e se, por acaso, isso acontecer é impossível chegar toda a gente ao mesmo tempo. Um porque um teve de voltar atrás ou porque outra está a telefonar... É que nem nos dias que há jogo, caraças! Uma situação de: “muito bem estamos todos vamos lá pedir” é mais raro que um guião bem escrito numa novela portuguesa.
O pedido é outra aventura patente de criar grave patologia na equipa do restaurante. Perdemos muito tempo a olhar para o menu, o que é um bocado estranho, visto já termos comido ali tantas vezes que devíamos sabê-lo de cor e salteado. Perdemos ainda mais tempo a ver uns com os outros o que é que vamos comer naquelas situações de: “Ah vais comer isso, então pedimos para os dois”. E quando, finalmente pedimos, é escasso o pedido simples. Ou porque não querem que certo ingrediente venha ou porque quer que seja posto...
Mas o pior não é isto! Não só fazemos imenso barulho e envolvemo-nos nas situações mais bizarras (digo-vos ver o Portugal vs Holanda com esta gente foi de doidos) como também, e isto é que é grave, ficamos tempo demais! Demoramos a comer (normalmente porque há sempre um mínimo de duas conversas paralelas a decorrer) e continuamos à mesa depois de acabada a refeição.
Os empregados d' “A Sardinha” não o admitem mas já não devem conseguir aturar-nos. Eles continuam a ser educados, porém lá no fundo... Imaginem-se no lugar deles: fim do dia de trabalhos, prontos para fechar e os sacanas dos arqueólogos não desamparam a loja!