terça-feira, junho 26, 2007

Spitagem violenta

Após um mês de animação suspensa ressurgimos! Admitam, por momentos pensaram que se tinham visto livres de nós. Que, finalmente, a Internet voltara a ser um sítio sério e de prestígio, no qual, em vez de lermos as ideias ridículas de uma cambada de alucinados, podemos executar as funções corriqueiras, saudáveis e respeitáveis para qual a ela foi criada: procurar pornografia e enviá-la a amigos.
Mas não, mais uma vez cá estamos para sugar toda a dignidade à auto-estrada da informação.
Se bem se lembram no longínquo post de 16 de Maio de 2007, no qual denunciava as assustadoras semelhanças entre as empregadas domésticas e os trabalhadores dos Cortiçais, prometi que faria um post intitulado: “Spitagem violenta”. Olhando para cima conseguem adivinhar o que vem a seguir…
Os spits, pequenos pernos de aço inoxidável, são fundamentais para as medições nos Cortiçais. O que faz da sua implantação um trabalho incontornável, apesar de chato. Basicamente a fixação dum spit consiste na perfuração de uma pedra (normalmente um ponto elevado ou outro local propício a determinadas medições) e na introdução, à base de marteladas, do dito perno. Parece simples não? Errado!!! Debaixo de água tudo é mais complicado (excepto flutuar. Curiosamente flutuar em terra apresentasse comum algum bastante difícil) e spitar não é excepção.
Tudo começa com o material utilizado. Como podem calcular ainda não instalamos tomadas nos Cortiçais, portanto a utilização do berbequim caseira está fora de questão. Em vez disso empregamos um seu parente que é alimentado por ar comprimido, o que significa carregar com uma garrafa de mergulho extra.
Contudo isto não é o pior. O factor que mais contribui para a spitagem não ser o mais apelativo dos trabalhos é a colocação deste em pontos elevados. Assim, quando spitamos tendem a suceder três situações: a garrafa cai do topo da rocha e puxa-nos para baixo; somos puxados para cima, devido a estarmos mais perto da superfície, ou seja, ganhando uma flutuação absurda e, pelo mesmo motivo da anterior, sofremos intensamente a ondulação. Existe ainda uma quarta situação, quando somos afectados por todas as anteriores em simultâneo. Como podem imaginar, usar um berbequim ao mesmo tempo que este é puxado para baixo, os nossos pés para cima e somos atirados de um lado para o outro, leva a que muitos dos orifícios criado assemelhem-se ligeiramente a crateras. O que não constituiria um problema, não fosse levar o spit soltar-se quando mais precisamos dele…

Vitor Frazão.

quarta-feira, maio 23, 2007

Sugadora, o aspirador do Diabo















Este post é feito com a máxima solidariedade por todas as mulheres (e homens modernos) que têm de realizar as duras tarefas que compõem a fascina doméstica. Convínhamos, sujar é rápido, fácil e até divertido, porém limpar é sempre lento, custoso e aborrecido (a quem discordar aconselho vivamente a procurar ajuda profissional, quer seja na forma de terapia ou dum qualquer modo de execução sumária).
Como mencionei no post anterior nós, membros do Clã da Cortiça Marítima, somos forçados a fazer várias actividades de limpeza submarina, para possibilitar o trabalho científico.
As mulheres-a-dias terrestres têm um inimigo principal e todo um arsenal para o combater: vassouras, panos, aspiradores, etc. Tais objectos não fazem sentido contra os nocivos oponentes dos homens e mulheres-a-dias subaquáticos: as algas e a areia. Não estão a imaginar utilizar uma vassoura para afastar a areia ou um pano para tirar as algas, pois não?
As algas, que cobre os spits, impedindo o seu uso, combatemos com uma escova de aço. Parece simples não? Porém, tentem limpar um spit quando mal conseguem ver um palmo à frente do nariz e com a ondulação a tirar-vos de um lado para o outro, como um bola de flippers!
Porém, para afastar os imensos quilos de areia que escondem e protegem os artefactos dos Cortiçais precisamos de algo bem mais poderoso que um escova de aço. Refiro-me, claro, à rainha de todas as armas do arsenal da limpeza aquática: a sugadora.
Este aspirador imenso (com força suficiente para sugar Alberto João Jardim da presidência da Madeira) tem uma função básica, tirar areia do sítio A e transportá-la, através de tubagem, para o sítio B. Embora seja essencial para um bom desempenho do trabalho, não é uma ferramenta agradável de utilizar, para nenhuma das partes evolvidas. Antes de mais, só funciona porque temos um compressor no barco a emitir quantidades de poluição sonora capaz de acordar a múmia de Lenine. Algo extremamente encantador para o pobre desgraçado que fica de guarda à embarcação, como podem imaginar! Para além disto implica que o local de trabalho esteja repleto de mangueira e tubos que, inevitavelmente, acabam por dificultar a deslocação. Também levanta alguma areia, o que faz maravilhas aos equipamentos pessoais dos mergulhadores.
Mas o que atribui características dantescas a este utensílio é a função para que foi concebida: sugar. A força desta coisa é impressionante! Alguns de nós já ficaram com o bocal desta máquina presa no braço ou perna e digo-vos é poderoso. Ficamos com chupões que pareciam doenças de pele com nomes impronunciável de países lá para trás do sol-posto! Não aconselhamos ninguém a aproximar aquilo dos órgãos reprodutores. Ou teriam uma grande quantidade de prazer ou de dor, possivelmente ambas.
Agora, não façam a experiência com o aspirador, por favor! A sério, não é muito boa ideia... a não ser que queriam entrar no “Jackass”.

Vitor Frazão.

quarta-feira, maio 16, 2007

Lides subaquáticas














O novo milénio marcou várias mudanças tecnológicas e culturais, em grande parte devido à cornucópia de guerras, revoltas e inovações que foi o século XX. Contudo, apesar de passarmos dos carros a vapor a vaivéns espaciais, muitos dos antigos hábitos são como velhos caranguejos com novas conchas.
Um digno representante desta metamorfose inalterável é a interacção entre os sexos e os papéis que a sociedade espera de cada um deles. Nesta New Age onde mais do que nunca valoriza-se o aspecto exterior e a expressividade dos sentimentos, uma ponto continua igual: nós, homens, continuamos sem entender as mulheres.
Se o próprio Mel Gibson tem dificuldade em saber o que elas querem como é que nós, que não lemos mentes, podemos aspirar desvendar tal enigma, que atormenta a humanidade desde a noite dos tempos. Creio que se Adão soubesse nos sarilhos que se ia meter teria optado pela bestialidade. Porém não o fez e, assim, continuamos, todos estes anos depois a tentar deslindar o que é que elas querem. Porque é que nos damos ao trabalho? Porque são mulheres!!! Por muito que nos custe a admitir fazemos quase tudo por elas. É de crer que a maioria das descobertas e invenções da História foram feitas por causa delas. Ao inventar o fogo os homens não pensaram vamos cozinhar mas antes: “agora já podemos procurar gajas no escuro!” Todos os edifícios, monumento e cidades? Feitos para impressionar mulheres. Pintura, música, escultura, literatura, cinema e coisas que tais? Feitos para impressionar mulheres.
Na verdade, como é que nos havemos de saber o que elas querem se elas mesmas não o sabem!!! Inventou-se a metrosexualidade porque pensamos que os que elas queriam era um gajo atraente e sensível. Todavia, quando pensamos que tínhamos a chave do sucesso elas dão uma volta de 180º e dizem que: “marmanjos desses são muito amaricados! Queremos é homens à séria! Barba rija, pêlo no peito! Que em vez de tofu e água mineral, preferiram sandes de mortadela e uma jola.” Claro que se seguirmos estas directivas logo arranjam maneira de mudar de ideias. É impressão minha ou elas gostam é de ser do contra? Ou então o que apreciam, realmente, é ver-nos a matar a cabeça para as agradar!
O facto é que, não obstante todos os gritos por igualdade entre os sexos, cada cromossoma continua e continuará a ter um papel social muito distinto. Curiosamente não diverge muito do modelo padrão, que há vários ciclos solares impera.
Tudo começa com os brinquedos que nos dão na infância. Dos generalistas peluche e “coisas que fazem barulhos engraçados” depressa passa-se para: bonecas, acessórios e cozinhas de brincar para as meninas, bola de futebol (na esperança que os deuses sejam generosos e a criança cresça para ganhar batelões de graveto!!!), armas e carros. Isto não é sexismos! Por muito que afirmemos que, hoje, em dia já não é assim, a realidade fala por si! Ah, e não me venham com aquele argumento que agora também se dão bonecas aos rapazes! Há uma grande diferença entre figuras de acção e bebés de plástico que simulam funções fisiológicas!
Mas o cimentar dos cargos predefinidos de cada sexo começa mais tarde, a partir do momento em que às meninas ensina-mos lides domésticas e aos meninos a reparar coisas. Entanto as raparigas são obrigadas a participar na fascina do lar os rapazes apreendem (normalmente da maneira mais dolorosa) como utilizar uma grande panóplia de ferramentas. Em suma, ficando qualquer um deles privados de consideráveis horas de ócio televisivo.
Nestes dois pontos encontramos as linhas centrais do trabalho dos Cortiçais: limpeza e o que hoje em dia se chama bricolage, e que antigamente denominava-se biscate, ou seja utilizar ferramentas para construir ou reparar algo. Debaixo de água isto traduz-se em aspirar areia e colocar spits. Na nossa casa subaquática, nós, biscateiros e mulheres-a-dias aquáticos, quer sejam homens ou mulheres, fazem-mos de tudo. Claro que as mulheres-a-dias terrestres não têm que registar os objectos presentes quando limpam uma estante, algo provada pelo facto das coisas nunca ficarem no mesmo lugar, mas tirando isso é tal e qual.
Em próximos posts narrarei um poucos destas aventuras domésticas submarinas, como parte da vicissitudes da imersão, com os títulos: “Sugadora, o aspirador do Diabo” e “Spitagem violenta.” Sei que não são os temas mais apelativos do mundo, porém, estou certo que existirá por aí uma classe demográfica que os achará fascinantes.

Vitor Frazão, que começa a ficar sem ideias.

quinta-feira, maio 03, 2007

Requintes de malvadez


O Criador é sádico!! Sei que estou a ofender um magote de pessoas mas é verdade! Quer lhe chamemos Deus, Buda, Alá, Jeová, a verdade é que o Arquitecto Universal (partindo do princípio que existe um) tem que ter um gosto especial pelo sofrimento dos outros. Se não porque é que edificaria o mundo deste modo?
Não estou a referir-me às guerras, doenças e generalizado, assuntos sobre os quais todos se queixam e que servem de argumento para a comunidade ateia do planeta. Afinal, estamos a falar de um Criador, não de uma ama-seca! Ele é (ou seria) como um jardineiro que escolhe as plantas a cultivar e onde, porém, deixa-as desenvolverem-se sozinhas. Não, a guerra e coisas que tais é mais da nossa patente (com muito esforço, diga-se de passagem).
Quando O acuso de sadismo tenho por base certos e determinados particularidades estruturais neste quintal planetário onde vivemos. E se Deus está nos pormenores são, precisamente, as pequenas e incómodas nuances do mundo animal e vegetal que atentam a crueldade do Criador.
Porque é que todos os animais e plantas pequenos surgem com as mesmas soluções evolutivas para a sua defesa? Venenos, espinho ou, melhor ainda, a combinação das duas, parecem ser as armas de eleição. Agora, digam-me se isto não é sadismo? Será que não haviam outras opções no arsenal natural? Porque é que Ele não escolheu alternativas menos agressivas para com a nossa integridade física, como o cheiro? Ser borrifado por uma doninha-fedorrenta é chato, claro que é, porém não se compara ao sofrimento de sermos picados, envenenados ou ambos!
O Arquitecto Cósmico terá tido um prazer particularmente perverso ao conceber criaturas com tais dons. Provavelmente, terá pensado: “Isto giro, giro era criar uma planta que ao tocar faça uma comichão danada!” Porque são os venenos não letais que demonstram malvadez! As mais letais aranhas, serpentes e afins até são bondosas, afinal, o que elas querem é matar a refeição o mais depressa possível, sem alarido. Já aqueles venenos de ortigas, urzes e cenas que tais é que geram tormentos.
No reino dos Corticais também existem criaturas desta categoria (será que isto está relacionado com a minha amargura para com eles? Possivelmente). De entre os vários espécimes vamos dar particular relevância aos ouriços-do-mar e às anémonas.
O ouriço-do-mar é o equivalente biológico de uma mina anti-pessoal, esta almofada de alfinetes submarina é, basicamente, um naco de carne coberto por dezenas quiçá centenas de agulhas, cada uma das quais com uma pequena quantidade de veneno. Pergunto, porque que é que o Criador não se limitou a dar-lhe uma carapaça? Era realmente necessário fazer esta bola dantesca?
Este pequeno monstro espinhoso obriga-nos a estar permanentemente em cuidado, quando trabalhamos, por entre as rochas dos Corticais. Especialmente, porque os fatos de neoprene são completamente inúteis para nos defender dele.
Como se isto não bastasse temos ainda as anémonas. Porque é que o, alegado, “Criador de Tudo o que é Bom”, deu-lhe um aspecto tão bonito e depois a fez venenosa? Não era mais fácil, simplesmente, fazê-la feia como a parte de trás de um autocarro? A anémona tem o dom de criar, a quem lhe toca, uma queimadura interessante, associada a uma bela comichão. Claro que à sempre aquelas que ao tocar-lhe com as luvas perguntam, inocentemente: “mas isto não é venenosa, pois não?” Ao qual se responde, obviamente: “Nãaa! Agora esfrega os olhos.”
Portanto peço, se algum de vós tiver a oportunidade de recriar o mundo tenham em consideração o que vos falo. Pode acontecer! Aliás pode ter sido assim que sucedeu ao Criado! Tinha saído, um dia, para ir tomar café, lá no seu plano de existência, e zás! “Olha, ascendi. Agora que sou um Deus acho que vou criar o Mundo.” Se eu fosse a vocês começava a pensar nisso… não se sabe o dia de amanhã! Eu atiro aqui algumas ideias: árvores que dê febras e bitoques, rios de cerveja, oceanos com aquecimento central e, já agora, nada de animais ou plantas, com espinho ou veneno. Por favor.

Vitor Frazão

quinta-feira, abril 26, 2007

Mudanças

Entre aquelas petas clássicas que nos costumam impingir desde cachopos (em conjunto com frases míticas como: “os bebés vêm de França com a cegonha” ou “o que conta é o interior”), está aquele conceito que mudança é algo positivo. Provérbios do tipo: “para melhor muda-se sempre”, força muitos a pensar que mudar é bom, o que nem sempre é verdade.
Ter um emprego num dia e não no outro, perder alguém chegado ou deixar de se ter um curso dum momento para o outro, tudo isto são mudanças mas, corrigia-me se estiver errado, só uma pessoa muito perturbada é que acharia estas mudanças boas!
Certo, certo nem todas as mudanças são negativas. Mas mesmo que as mudanças sejam boas, fazer mudanças nunca o é! Mudar da casa A para a habitação B pode trazer um mundo de benefícios, porém, não há ninguém que fique na mesma depois de o fazer. Não refiro aos inconvenientes de habituação à casa nova, aos vizinhos ou ao bairro em geral, falo do efectivo acto de mudança. Pegar nas tralhas que estavam no “pardieiro” anterior para a nova “cocheira”.
Ninguém volta a ser o mesmo depois dos traumas físicos e mentais duma mudança. A raiz de tamanho mal é a tendência absurda e compulsiva que nós, humanos em geral e portugueses em particular, temos para acumular tralha. Desde coisas como livros escolares ou brinquedos de bebé (porque toda a gente diz: “não deites isso fora, para um dia mostrares aos teus netos!” Calculo que essa minha descendência terá tanto interesse pelos meus Legos, como eu tenho pela roca do meu avô!), a resmas de revistas e jornais velhos, passando por meia dúzia de peças de roupa que queremos esquecer que alguma vez usamos e outro que o único modo de voltarem a servir seria um acto de Deus!
Pensar-se-ia que cambiar de habitáculo seria uma soberba ocasião para alguém livrar-se de objectos desnecessários, porém, não!!! Podemos já não ter qualquer utilidade para um vídeo Beta mas sejamos ceguinhos se não o levamos para a nova “palhota”. Este tipo de acção leva a que tenhamos muita tralha para transportar o que, por um lado, facilita algumas hérnias e obriga-nos a arranjar ajuda. Ora nesta situação ou abrimos os cordões à bolsa ou pedinchamos aos amigos.
Obter camaradas para gastar um dia em intenso trabalho físico, não remunerado e potencialmente prejudicial à saúde não é tão fácil como se julgaria. Nos dois segundos que leva a perguntar isto toda a gente arranja planos. Aparentemente, nesse preciso dia, o Papa, os Rolling Stones, a Selecção Nacional e formas de vida inter-galácticas vão estar, exactamente naquelas redondezas. Nem que o local em questão seja a ilha do Pico!
É um daqueles pedidos que pode cimentar ou destruir uma amizade. Temos de pensar: “Será que gosto o suficiente desta pessoa para transportar duas poltronas, um sofá, um piano de cauda e todo o equipamento de halterofilismo?”
Se pensam que “acartar” um balcão de mármore para um 10º andar, dum edifício sem elevador, é mau experimentem arrastar um caixote de pedras, debaixo de água, ao longo de 40 metros de terreno rochoso. Digo-vos se alguma vez se meterem nestas andanças da arqueologia subaquática (o que já por si...) e um dia ouvirem dizer que no mergulho do dia seguinte vai-se limpar o sítio de todas as pedras soltas, é bom que arranjem uma boa desculpa para ficar em terra. Especialmente se a equipa não tiver disponíveis balões de ar, que é o que se costuma usar para deslocar grandes massas debaixo da água.
Claro, que como membros dos Cortiçais tínhamos de fazer as coisas do modo mais difícil. Por isso, quando tal trabalho foi necessário, balões nem vê-los. O que deixa os carregadores subaquáticos com duas hipóteses: ou vão sem barbatanas (o que implica dar à perna como um doido para voltar para o barco), fazendo um número do tipo homem na Lua (convínhamos o fundo do mar é uma paisagem lunar na terra) ou juntam-se aos pares e tentam levar a carga a nado. Depreenda-se que “a nado” tem de ser utilizado, aqui, com muito boa vontade, pois o que fazíamos era mais rastejar. Cada um dos mergulhadores tinha de ter uma mão na caixa e a outra no chão para tentar deslocar um caixote cheio de calhaus de joelhos. Escusado será dizer que não era propriamente fácil, especialmente porque a distância não era curta nem o terreno livre de obstáculos.
Por outro lado os choques psicológicos das mudanças subaquáticas são muito menores que os das terrestres. Nestas sujeitamo-nos a descobrir mais sobre os nossos amigos do que gostaríamos saber. Pensamos que uma pessoa é calminha até o dia em que, ao ajudá-lo a mudar, damos de caras com um vasta gama de objectos de tortura, os restos mortais das suas ex-mulheres e um cartão de sócio do KKK! Acredito que muitos criminosos condenaram-se a sim mesmo a partir do momento em que perguntaram: “Queres ajudar-me a mudar?”

Vitor Frazão

quinta-feira, abril 19, 2007

O suspeito do costume


Este é, provavelmente, o mais suspeito dos habitantes dos Cortiçais. Suspeito do quê? De toda e qualquer coisa. É um animal que simplesmente não consegue evitar ter um ar culpado. Este crustáceo é o equivalente subaquático do “mangas”, um pequeno vigarista/vendedor de cenas fanadas/“pilha galinhas”. Se fosse humano só teria um trabalho honesto para depois roubar a caixa-registradora. Alguém que se o acusar-mos de ser capaz de vender a própria mãe ele responde: “Isso é uma proposta? O modelo inteiro ou peças? Para embrulhar ou vai mesmo assim”, para depois, claro, ficar com o dinheiro e “esquece-se” de entregar a velha.
Refiro-me ao caranguejo. Poderá ser preconceito, o mais certo é ser um invertebrado perfeitamente honesto (se é que podemos aplicar esta característica a um animal) contudo olhamos para os seus pequenos olhos separados, no topo da cabeça, e de imediato concluímos: “ou já a fez ou está par a fazer”!
Por que será? O que é que lhe dá um ar tão acusável? Será o facto de andar de lado? Afinal é um pormenor bastante específico que, certamente, levanta suspeita entre os demais formas de vida submarinas. Se a isto acrescentarmos a sua tendência para esconder-se em buracos escuros com o aproximar de alguém e os seus maneirismos de fumador compulsivo (a constante ascensão das pinças à boca dão a ideia de estar a fumar dois cigarros), dá-lhe um aspecto de vendedor ilegal, que aparece para mostrar o produto e depois evapora-se (não quero com isto dizer que todos os fumadores tenham um ar suspeito! Mas convínhamos, a imagem que Hollywood e companhia passam é que vigarista de bairro que é vigarista de bairro tem um tipo de nervosismo que só é tratado com constante assimilação de nicotina).
Talvez seja o facto de andar no mar da mesma maneira que anda em terra. Esta dubiedade levanta, seguramente, desconfianças. O simples facto de ele andar, quando os demais membro da comunidade subaquática nadam...
Independentemente do motivo o caranguejo é suspeito! Por vezes, enquanto trabalhos, damos por ele a observar-nos atentamente. Nessas alturas esperamos que, a qualquer momento, ele olhe para um lado, olhe para o outro (o que não deve ser fácil quando nos deslocamos de lado) e diga-nos: “Pst! Oh, chefe, tá interessado numas cerâmica? Consigo-as baratinhas!” Atitude para qual seria necessária uma certa dose de coragem, especialmente, tendo em conta que a uns meros 50 metros, alguns membros da sua família estão a ser cozidos vivos numa marisqueiro (que apesar das indirectas ainda não avançou com um patrocínio para ser referida aqui).

Presidente da AAÓ.

segunda-feira, abril 02, 2007

Atum!!!


Como nos ensinou um certo e determinado grupo, cujo nome permanecerá anónimo para evitar o pagamento de direitos de autor (o nome faz referência a um mamífero doméstico seguido de um adjectivo pouco elogiador ao mesmo), o atum pode assumir as mais bizarras formas.
Entre as subespécies deste peixe de água salgada há uma que sobressai: o atum dos Cortiçais. Este ser, cuja capacidade de respirar fora de água é notória, tem traços ligeiramente humanos (muito ligeiramente, a atirar para o remoto e a rasar imperceptível).
Possui longas barbatanas e pele grossa de neoprene, numa matiz de corres que vai do negro (está bem o negro não é cor é ausência de luz mas entendem o sentido da coisa) ao amarelo florescente, passando pelo azulinho e vermelhusco.
Têm, igualmente, uma garrafa às costas, por razões que me escapa. Tal acessório deve ser retirado aquando da pesca, antes de içar o bicho para o barco. Como se processa essa faina?
Ao contrário dos demais atuns não é pescado com isco. Sendo necessário aconselho o uso de cerveja. Contudo, tal não é preciso pois o animal tende a saltar para o barco por si e quando não o faz pede ao pescador para o fazer! Claro, que qualquer homem do mar prefere que o atum dos Cortiçais entre no barco pela sua própria barbatana, uma vez que a alternativa é iça-lo. A elevação de tal “peixe” não é fácil, especialmente, por não se utilizar ganchos como para os restantes atuns. Parece que há algum cuidado para mantê-los vivos, vá-se lá saber porquê...
O tamanho varia, temos desde pesos plumas a super-pesados. Alguns deles dignos de serem presos num gancho, no porto, para uma fotografia. Alguém me explica porque é que as pessoas nessas fotografias têm um ar tão orgulhoso? Especialmente quando são capturas acidentais? Amigos, não a apanhara o tubarão-branco ou a lula gigante à mão, pois não? Mesma coisa com as fotos dos safaris em África, a maioria está tão inchada como se tivesse morto um leão com as próprias mãos!